domingo, 25 de dezembro de 2011

A história de natal

História de natal

Estava a nevar lá fora, era véspera de natal. O pequeno Quico saltava de alegria em frente à lareira enquanto a sua mãe, a gata branca, dormia enroscada na alcofa. A árvore de natal estava a brilhar e o leite e as bolachas para o pai natal estavam em cima da mesa como manda a tradição.
A hora já ia avançada por isso os donos da casa já se tinham ido deitar, depois da consoada ainda ficaram sentados no sofá a contar histórias de outros tempos, a Margarida sempre com o Quico ao colo escutava o avô atentamente. Eram lembranças de outros natais e de outras pessoas que até já tinham partido e que a Margarida que com apenas seis anos não chegara a conhecer, se calhar nem a sua mãe conhecera algumas das pessoas de quem o avô falava. Mas isso não importava, o que importava era que o avô estava com eles e ainda se lembrava de tantas coisas bonitas para contar.
O Quico estava muito agitado, afinal queria tanto conhecer aquele menino que ia nascer, aquele que até tinha direito a uma caminha debaixo da árvore ao pé daquela senhora tão bonita. O avô da Margarida disse que ela ia nascer naquela noite, e o Quico queria tanto ver.
Deu um salto por causa de uma fagulha da madeira da lareira ter estourado e ouviu uma voz que lhe disse:
- Acalma-te pequeno que ainda falta muito.
O Quico não viu quem lhe falava e assustado foi logo deitar-se ao lado da mãe que acordou.
- O que foi meu pequeno? – Perguntou-lhe.
- Ouvi uma voz estranha mamã, mas não vi quem falou. Tenho medo!
Então a mãe sossegou-o.
- Shush. Meu querido descansa um pouco.
- Mas mamã, eu quero ver o menino!
- Qual menino? – Perguntou a mãe.
- Aquele que vai chegar. – Insistiu o pequeno.
De repente a voz falou novamente.
- O menino vai chegar só de manhã, quando a senhora o colocar sobre as palhinhas. Todos os anos é assim. Só de manhãzinha.
A mãe gata olhou e viu a estrela de natal no cimo da árvore que tudo via, e sorriu.
- Olá Dona Estrela. Então foi você que falou ao Quico á bocado?
- Sim Dona Branquinha, ele estava tão agitado, e a noite ainda vai ser longa.
O Quico não conhecia a Dona estrela, afinal ele só era um gatito com dois meses. Olhou para cima da enorme árvore de natal e finalmente viu-a a brilhar lá bem no topo.
- Ah! É tão bonita. – Disse.
- Obrigada, meu pequeno. Tu também és muito bonito, sabias? – Respondeu-lhe a Estrela.
O Quico deu uma gargalhada e até ficou deitado de costas com a sua barriguita rechonchuda branca virada para cima.
- Você disse que a senhora é que vai trazer o menino? Mas o avô disse que era um anjo que o ia trazer! – Replicou o Quico.
- O avô pode ter dito, mas todos os anos é a senhora que acorda muito cedo, dá o leite á tua mamã e bebe algum enquanto come as bolachas e deita o menino nas palhinhas. Ela também costuma trazer um saco grande cheio de coisas lá dentro a que chamam presentes e que são coisas bonitas. A Margarida é que costuma ter muitos, do avô, dos pais, dos tios, dos outros avós. E durante o dia é uma correria com todos esses presentes. O Francisco já recebe menos, já é grande, mas acho que ele não se importa. O senhor, o pai, costuma também dar um á senhora, à mãe, e ela a ele. E os dois costumam dar sempre um ao avô que ralha sempre dizendo: “Não era preciso”, – explicava a Estrela – mas também a senhora quase sempre dá um cachecol ou uma camisola para o avô ficar quentinho. E às vezes chora. É que ela tem saudades da avó Maria que faleceu já há uns anos. A senhora às vezes chora quando está a decorar a árvore, quem a ajuda a ficar mais alegre muitas vezes é o Francisco. Dá-lhe uns beijinhos e uns xis corações apertados e ela fica melhor.
O Quico estava tão cansado que se esforçava por manter os olhos abertos. A Branquinha aconchegou-o mais quando lá fora o vento começou a uivar com força. A figura roliça do Pai Natal que estava na lareira parecia ter piscado o olho á Dona Branquinha. Ela aninhou-se enroscada em volta do seu filhote e adormeceu também.
Pela madrugada a senhora cumpria o seu ritual, leite no pires para a Branquinha e agora para o pequeno Quico também; um pouco para si, para comer aquelas bolachas de canela e gengibre que a Margarida tinha feito tal como a sua mãe também lhe havia ensinado quando menina. Uma lágrima rolou pelo seu rosto quando se sentou na poltrona, sentia tantas saudades da sua mãe que nem se apercebeu que uma alma brilhante apareceu, só a estrela de natal a conseguia ver. Era o espírito da avó Maria. A senhora não viu mas sentiu algo, como se alguém lhe estivesse a dar a mão naquele momento, e ouviu uma brisa suave sussurrando:
- Estarei sempre contigo minha filha, estou feliz, por isso sê feliz também!
A senhora sentiu um grande calor de amor no seu coração, o pequeno Quico ainda com os olhos pesados, meio abertos meio fechados, viu o grande sorriso que ela tinha agora no rosto, e viu também ela a colocar no presépio uma figura pequenina ao lado daquela senhora linda e das outras figuras enquanto disse baixinho para ele:
- Já é dia de natal, já nasceu o Deus menino. Chama-se Jesus.
Fim.

Isabel Oliveira
2011
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