A ironia de sermos pequenos, a ironia de sermos Portugal
Após muitos séculos de história,
a nossa história continua, e continuamos a fazer História.
Continuamos
pequenos, mas continuamos a ser grandes.
E isso ainda incomoda muita gente.
Somos de muitas raízes, raízes
africanas mais certamente (mas quem o não é aqui na Europa) que existem provas
dos primeiros hominídeos homo sapiens sapiens terem habitado as nossas terras e
grutas, o povo selvagem, os tuaregues do norte de Africa, os romanos, os visigodos,
os povos mesclados da península ibérica, é disso tudo que somos feitos.
Conseguimos fazer coisas que
outros demoraram a ter coragem para fazer, e sim somos pequenos. Não adiantou de
nada as invasões espanholas, as tentativas das invasões francesas, os tratados
amigáveis cheios de truques dos ingleses que se foram apossando das terras a
norte (vinhas e quintas) e a sul (moradias no Algarve) vieram de mansinho foram
comprando e foram ficando mas isto ainda é Portugal. Eles vêm, eles vão.
Fizeram-nos trinta por uma linha, vinte por um cordel mas de nada adianta
porque nós somos tão poucos que até temos de sair de cá para colonizar o mundo.
Não existe na terra lugar onde não exista um português, ou por onde um de nós
não tenha passado. E ainda há quem se atreva a dizer que nós estamos a
desaparecer.
Somos um povo de brando costumes
é o que se diz. Dizem também que é do clima, da comida, da bebida. Aliás nós fomos
os pequenos pobrezinhos da ponta da Europa que foram iludidos pelos tais do
norte os Arianos, salienta pois dizer que fomos nós que colocamos o ouro,
prata, e especiarias a render nos bancos da Flandres por ser
território “neutro”, sim fomos ingénuos ou mesmo burros - que o animal propriamente
dito não tem culpa nenhuma. Mas fomos uns totós de primeira e quem se lembrou
dessa cena devia ter sido enforcado na hora, mas não foi. Os pobrezinhos, bêbados, ignorantes,
estúpidos. Mas não somos mais do que todos estes povos grandes europeus, esses
que vinham possantes, selvagens bárbaros que resolviam tudo com invasões e à
força bruta. Brutos. E provaram mais uma vez que o são, brutos.
Nós também fomos brutos. Aliás
fomos muito mais que brutos, condenamos à escravidão o povo africano porque
fomos avançando pela sua costa, conquistamos e escravizamos o povo do Brasil os
ameríndios. Alimentamos o mercado negreiro até à exaustão. Conseguimos
colonizar além na India tão longe do nosso país, coisa do qual os nossos “amiguinhos ingleses” se
aproveitaram para colonizar com a nossa ajuda (parvos). Agora aguentem-nos aí pelos uk aos indianos, que nós por cá temos os nossos.
Nós os pobres e pequenos da ponta
da Europa, tivemos a pretensão e a audácia de juntamente com a Espanha que é muito maior que nós, dividir o mundo em dois. E depois fomos a mar aberto enviando
naus e caravelas navegar por estes mares, todos os mares foram conhecidos por
nós. E ainda hoje as nossas técnicas são as usadas para velejar.
Continuamos pequenos aqui na
ponta do jardim, mas se levantamos um pouco a cabeça, é um “Deus nos acuda”;
somos um povo perigoso, rotulado de feios, maus e malandros, e é por isso que a
melhor mão-de-obra na Europa é portuguesa, porque somos perigosos. Não
prestamos, nem para nós mesmos, mas lá fora somos simplesmente um povo
determinado e trabalhador, porque nunca desistimos, porque caímos e levantamos.
Deixamos o Brasil ser independente, deixamos Angola ser independente, deixamos
Goa ser independente, deixamos Dili ser
independente e resgata-mo-o da Indonésia (para onde querem voltar), deixamos Macau ser independente, deixamos
a todos os colonizados serem livres, mas não porque se tenham tornado fortes e
nós fracos ou que sejam mais difíceis ou sem recursos, e não porque não
conseguíssemos explora-los mais, deixamos porque percebemos que todos devem ser
livres.
Somos tão maus, mas tão maus que
ainda há pouco um alemão disse para enviarmos os nossos jovens desempregados
para lá para a Alemanha (porquê?), desempregados com formação é
tão difícil de arranjar veja-se aqui mesmo no nosso pais, queremos pessoal para trabalhar
e pagar pouco e não conseguimos. Sim porque nós queremos pessoal formado a
preço de saldo, mas eles lá conseguem porque os salários mais baixos de lá são muito maiores do que se quer pagar por aqui, porque os imigrantes são pessoas
resilientes e fortes e mesmo pagando o valor muito abaixo como ganham mais do
que aqui é óbvio que preferem trabalhar lá.
Agora imaginem se nós, Portugal, conseguíssemos
crescer um bocadinho se o zé-povinho ganhasse um pouco mais, só mais ao ponto
de ter uma vida mais despreocupada, tínhamos mais industria, tínhamos menos
desertificação, tínhamos evoluído mais como todos aqueles que ajudamos a
evoluir ao longo destes anos ao invés de ficarmos parados no tempo à espera de
dinheiro para não investir nem desenvolver agricultura, nem pecuária, nem
pescas, porque eles lá têm tudo, só temos de comprar e ainda nos emprestam o dinheiro e houve um burro que aceitou pagar esse preço.
Dizem que somos um povo triste,
que canta fado e chora, e diz saudade. E quê? Isso faz de nós uns tristes, uns
simples? Não. Nem todo o fado é lamento, caros senhores a maior parte do fado é
canto ao desafio, desgarrada. Sabem o que isso é? É uma espécie de prova a ver
quem tem mais capacidade de improviso e argumentação independentemente do mote
dado. Nunca ouviram? Recomendo. A nossa cultura folclore e muito mais animada
do que pensam e se calhar muito parecida com a vossa. Afinal a nossa herança
genética não é assim tão diferente. E chorar quem não chora? Chorar não é sinal
de fraqueza é de quem está a dar tudo de si e não o consegue esconder quando
lhe dói a alma.
E saudade é uma palavra que nunca
terá tradução porque podemos colonizar o mundo que nosso coração é sempre daqui
deste cantinho. Saudade é isso que quer dizer, podemos estar em qualquer lugar do
mundo que falando no nosso país esse momento passa a ser a coisa mais
importante do mundo.
E que temos nós neste pedacinho
de terra que nos apaixona tanto?
Uma costa banhada de sol e de mar, melhor
melodia não existe, um jardim no oceano como a nossa linda Madeira, nove ilhas inigualáveis como os nossos Açores com florestas de encanto. Fizemos a nossa
parte em Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Principe, Angola e Moçambique e da costa africana, trouxemos sempre o melhor que tinham, fomos maus mas tão bons que eles sentem-se como parte de nós os mais pequenos mas os grandes.
Disseram que Portugal é um País
triste, no entanto tantos querem vir para cá ficar tristes ao nosso sol,
deitados nas nossas praias e a banhar-se nas nossas águas e a comer do nosso
peixe e da nossa carne que não existe igual neste mundo. Eles dizem muitas
coisas sobre nós, pequeno país da Europa, mas depois de nos conhecerem ficam
rendidos. Atribuíram-nos o signo de Peixes aquele do Zodíaco, aquele que dizem ser o mais fraco, sonhador, pouca iniciativa, triste. Mas alguém acredita nisso, nem
nós somos assim nem as pessoas desse signo, a prova disso está à vista onde estiverem os portugueses. Aliás a imagem dos dois peixes não
deixa margem para dúvidas, somos um povo que se desdobra para chegar ao objectivo.
Esse objectivo foi sempre ser nº
1. E somos, agora é a nossa vez.
E a todos que dizem que o que vem de fora é melhor, que subestimam a nossa capacidade, que tentam todos os dias rebaixar nos que nos tentam diminuir porque não conseguem ser melhores que nós, a todos que disseram que nunca iríamos longe, nunca se esqueçam nós aplicamos o principio máximo de não dar o peixe mas ensinar a pescar. Nós podemos tanto como qualquer um, nós somos tanto como qualquer um e por isso e tal como em missão, em trabalho, nos desportos em tudo, nós também temos e somos CAMPEÕES.
Parabéns aos meus meninos.