O dia de ramos é já no domingo, não gosto de dizer dia dos padrinhos, embora seja a eles que os afilhados ofereçam ou melhor devem oferecer o ramo. Aliás toda esta época tem muito significado para mim, durante anos senti um misto de alegria e tristeza. Os meus padrinhos emigraram logo a seguir ao meu baptismo e eu passei a minha infância e juventude sem os conhecer, as festas onde os padrinhos dos outros apareciam os meus não estavam. E eu sentia-me diferente por isso. Era uma tia minha que assumia esse papel, que por acaso era mesmo madrinha do meu irmão, mas que para mim nunca desempenhou de boa vontade. Durante anos eu fui o levar o ramo ao mesmo tempo que o meu irmão, mas quando ia buscar o folar ouvia sempre umas piadinhas até que uma certa altura descobri que era a minha mãe que me dava o folar. Havia uma espécie de troca, um primo meu, cujos padrinhos (nossos tios) também estavam emigrados, ia a minha casa buscar o folar e eu ia a casa dele, com uma única diferença, ele não ouvia piadinhas e eu sim, tristemente porque já sabia o que certas pessoas queriam dizer por entre as linhas. Os meus padrinhos estavam muito mais longe que os meus tios, mandavam cartas, mas o que são cartas de longe a longe para uma criança?
Quando chegou a altura da minha comunhão solene até fiquei doente, febre de 40º mas fui a cerimónia na mesma, nas fotografias dá para ver a imensa tristeza. Por tradição nas festas é pedido aos padrinhos para darem um beijo, ou acompanharem os seus afilhados na cerimónia e na minha eu sabia que os meus padrinhos não iam estar. Quando o ritual começa e os padrinhos são convidados a saudar os afilhados as lagrimas simplesmente começaram a cair pelo meu rosto, logo a minha mãe disse para eu não ficar assim que a minha tia "madrinha" também me ia saudar pelos meus padrinhos mas isso não me confortou, e ao se aperceberem disso todos os padrinhos, digo mesmo Todos os padrinhos das outras crianças (e nós eramos quase 100 naquela altura) vieram saudar-me porque viram que os meus verdadeiros padrinhos não estavam assim na minha comunhão eu tive mais padrinhos que todas as outras crianças - Obrigada a Todos que nesse dia me saudaram muitos certamente já partiram mas o seu gesto ficou guardado no meu coração.
Quando os meus padrinhos voltaram para portugal eu já era adulta e claro tive vergonha de os ir procurar. Então aconteceu algo inesperado, a minha madrinha veio procurar-me. No domingo de Ramos estava eu a dormir ainda quando a minha mãe me veio acordar e disse que eu tinha uma visita, quando a vi claro que não sabia quem era, mas logo se esclareceu, era a minha madrinha. Quis fazer questão de me vir conhecer. Dizem que os padrinhos são como país, pelo menos era assim no meu tempo, eu seria mãe para a minha afilhada se ela não tivesse a sua (que tem) e acho que tento ser um pouco mesmo assim. A minha madrinha quis que eu fosse a sua casa no dia de ramos e na pascoa como devia ser pelo menos até eu me casar (casei tarde 29 anos), fez questão de me oferecer o vestido mas por questões pessoais não pode comparecer ao me casamento, foi pena tinha mesmo muito gosto e sei que ela também gostava de ter lá estado.
Enfim, talvez por isso não digo dia dos padrinhos mas sim dia de ramos e faço questão em que o meu filho leve aos seus padrinhos (que por coincidencia são meus padrinhos de casamento) o ramo. Mesmo que tenha sentido ao longo dos anos alguma resistencia sempre fiz questão desse gesto, porque um dia ele vai dizer que os padrinhos dele sempre estiveram por cá só não participaram mais na sua vida porque não quiseram. Eu sei que hoge em dia toda a gente tem compromissos e os padrinhos do meu filho tem 4 afilhados. Eu ainda não sei que tipo de ramos vai o meu filho escolher para oferecer, anos passados eu fiz uns que não morressem porque não sabia se ia ver os padrinhos por esta altura, este ano não sei ainda e meu pimpolho não está muito empolgado diz que só lhe oferecem dinheiro quando ele ficaria bem mais feliz com um grande ovo de chocolate - facil de contentar não - só tem dez anitos.
