quinta-feira, 18 de abril de 2013

Vizinhos novos - dizia ela



Na verdade é apenas um casal. A minha amiga ficou super curiosa, afinal vão dividir o mesmo hall do mesmo andar. Os últimos eram super mal encarados, mesmo que se cruzassem não diziam uma só palavra. A miúda deles quase nem podia levantar o olhar, mas não eram barulhentos, eram muito metidos consigo próprios - dizia-me ela.
Estes parecem ser simpáticos mas também só os viu uma vez ainda andam em mudanças. Riu-se e virou-se para mim: "E se eu lá fosse de bolo na mão como fazem os americanos nos filmes?"
Deu-me cá uma vontade de rir, como se nós "porteguesinhos" fossemos capazes de algo assim tão cusco. Na verdade somos do piorio, há coisas que ficam a olhar de soslaio por detrás das cortinas a medir os ditos cujos de alto a baixo e a fazer juízos de valor sem os conhecer. É verdade, eu tenho coisas assim no meu condomínio, coisas, não pessoas, que se põem a falar de nós no vazio das suas almas, idiotas, retrogradas e medíocres, atrás das cortinas, das janelas e pior ás janelas e sozinhos.
Eu já não faço caso, mas eu também nunca fui curiosa a um nível tão baixo.
Se calhar se fossem assim simpacticos os meus vizinhos, como os tais vizinhos novos da minha amiga, eu se calhar fazia mesmo como os americanos, ia e batia á porta com um bom bem vindos, isso se a minha família fosse diferente. Isto se na sociedade em que vivemos ainda pudéssemos bater á porta do vizinho para pedir sal, açúcar, ajuda, sei lá. Mas na verdade não o fazemos porque em muitos sítios os vizinhos nem conhecem. Se acontece algo (barulho, choro) para muitos até é normal, quem se atreve a chamar a policia (que não vem) se suspeitar de violência numa casa? Poucas pessoas se atreveriam a tanto, eu sou mais do tipo que bate á porta e pergunta o que se passa, o meu marido diz que sou de outro mundo, que me arrisco, mas e quando eu for como os outros e deixar de me importar quem vai se importar comigo quando eu precisar?
Onde eu moro por acaso não mora nenhum idoso sozinho, mas quando eu for idosa alguém irá preocupar-se comigo se eu nunca me importar com os outros? Vizinho não serve apenas para reclamar do barulho, da falta de educação, se forem boas pessoas servem para ser amigos - coisa rara. Eu admiro aqueles lugares onde todos se cumprimentam pelo nome, se preocupam quando alguém fica doente ou não aparece. Eu de facto sou de outro mundo, de outro tempo, se calhar sou apenas alguém que gosto de ver o bem refletido nas pessoas.
Conselho dado à minha amiga, no primeiro fim de semana que os vizinhos novos se instalem, deixar na porta um recado: "Se precisar de alguma coisa bata na porta ao lado - assinado XXXX XXXXX seus vizinhos!"
O bolo pode ficar para depois.
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