quarta-feira, 2 de novembro de 2016

quando a vida muda

Tenho andado para escrever algo aqui desde que se soube.

Meu Pai está internado no IPO com uma Leucemia Aguda. 
Prognostico muito reservado, nada de previsões, só informação de métodos de intervenção. 

Doí. 

Vidas suspensas.

Meu Pai tem 73, era uma pessoa activa até uns dias atrás. Vive com a minha mãe que já enfrentou um cancro da mama à uns anos atrás e anda sempre a ser vigiada. Era ele que levava e ia buscar o meu filho à escola todos os dias. 
Sempre fez o que podia e não fazia mais porque não podia. E de repente ia-se apagando silenciosamente. Queixou-se apenas que se sentia cansado, e estava mais pálido que era habitual. Coisas nele que não faziam sentido. 
Mais uns dias e já estava. Foi a uma consulta de urgência porque simplesmente lhe doía o peito, uma dor até nem muito forte mas chata. Analises, exames e um veredicto pungente. Leucemia em fase aguda. E uma ordem de internamento imediata e uma vaga imediata no IPO. Pensar? Não, não pensar muito, agir, correr, e ele foi. E lá está desde dia 24 de Outubro.

Como pensar a vida depois de uma noticia assim, uma noticia de que não se sabe o dia de amanhã?

Quando a minha Mãe teve cancro e foi diagnosticado muito no inicio eu disse-lhe que apesar de tudo já existe cura e uma taxa de sobrevivência muito boa e dei-lhe sempre a entender que ainda era possível acreditar em viver muitos mais anos com alguma qualidade de vida. E assim está a ser.
A ele que digo? Quando não me garantem que a quimioterapia funcione, que vai correr bem; não me deram uma sentença é certo, mas também não me deram nada em troca. 
Como não viver a vida em suspenso? Estarei a ser egoísta por querer que ele viva mais uns dez, quinze anos? 

Os pais deviam ser eternos, os filhos também, os nossos melhores amigos também, porque é que saber que vamos morrer nos custa tanto se aqui é um lugar tão difícil para se estar?

E eu não quero chorar ainda, quero dar-lhe da minha força, quero que ele como guerreiro que é, que foi (conseguiu sobreviver a uma guerra no ultramar), sinta a minha força e que não me veja como alguém que desiste antes do confronto começar (porque eu não sou assim), e agora só vou chorar para dentro de mim e chorar tudo mais no fim desta guerra. Até lá vou criar força, energia e luz para ele.

Papi, tu sabes que te amo, que te amamos e que te queremos por cá mais um bocadinho. Fica.
 
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